quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mistérios da meia-noite

Onde rascunhos é apenas o começo...

por Ethiene Kepler Neves

Segunda-feira, 4 de janeiro de 1962. Um dia como outro qualquer. Ontem à noite apenas o barulho se fez presente. A dúvida era grande, afinal: abrir ou não a janela? Conferir era o intuito. Dar um basta na dúvida... As palavras podem soar sem sentido, mas se faz sentir, faz sentido. O desejo e o prazer da certeza. A dúvida é sempre cruel. As pessoas dizem que estar louca é um estado de espírito, mas louca não seria o adjetivo ideal. Uma sombra e o som do barulho, eis as provas. Histórias se espalham pelos quatro cantos do mundo e, de fato, louca não é a descrição correta. A verdade é que de fato a história é real, e está se passando logo ao lado. Cachorro? Não. Assim como louca não seria o adjetivo, cachorro não seria a nomenclatura exata. Só o tempo dirá se todas essas anotações procedem e, amanhã, mais rascunhos serão esboçados. Um novo capítulo, de uma história que pode não ter fim...

Terça-feira, 5 de janeiro de 1962. O barulho novamente tomou conta do quarteirão. Eco é algo assustador afinal, é sinônimo de silêncio. A solidão é a melhor companhia, mas não numa noite como essa. Passar a noite na sala, dormindo no sofá: uma opção. Ouvir de perto o barulho e talvez solucionar o que já havia se tornado um problema. Uma noite fria, onde cobertas já não desenvolviam mais o seu papel. No momento de jogar lenha na fogueira, a janela estralou. Quando acontece, a primeira coisa que vem em mente é a madeira, nada, além disto. Mas quando os sons de passos se juntam com estalos, os batimentos se tornam acelerados e fortes. Ao se aproximar, um rato grande e cinza deu o ar da graça na cozinha. Não foi dessa vez. A única certeza que se pode ter é de que, louca, continua não sendo o adjetivo correto.

Quarta-feira, 6 de janeiro de 1962. Antes de dormir, a caneta e o bloco saem da gaveta e ganham vida. Talvez um dia tudo isso possa ajudar a chegar a uma conclusão – uma resposta, enfim. Noite de lua cheia. Ótima ocasião para fotografar a lua, o sol da noite. O flash chamou a atenção da janela ao lado da varanda. Os barulhos começaram mais cedo. Que tipo de barulho? Uivos. Uma vida toda convivendo com cachorros, e nunca nada nem parecido. A coragem tomou o lugar do medo, e fez com que a direção certa a tomar era a varanda. Com lençóis brancos sendo arrastados na madeira, em frente às escadas... Foi possível enxergar. Um vulto. Louca? Não. Constatar o óbvio é mágico. O ideal seria fotografar, pois valeria mais que mil palavras... É assim que a maioria pensa. O que era mais estranho do que a história em si, era o sentimento de seguir a diante, sem medo. Não era a melhor escolha a ser tomada, mas...

Quinta-feira, 7 de janeiro de 1962. Passar o dia em frente ao milharal, uma ótima paisagem. Existe terapia melhor do que sentar na varanda e sentir a brisa fresca? Não, não existe. Reservar algumas horas do dia para organizar as ideias foi o roteiro. A noite de quarta fez com que, a vontade de ir além dos degraus da varanda, fosse o próximo passo. O sol se despediu e deixou a lua brilhar em seu lugar. Era chegada a hora de se preparar para algo que poderia ser inesperado. No fundo era nítida a loucura, mas nada comparado ao prazer de se arriscar cada vez mais. O medo já não era mais cogitado. As janelas estavam todas abertas, com as cortinas brancas ao vento. A varanda era um cartão de visita, assim como a porta escancarada. Enfrentar o frio fazia parte do script. Sentar na cadeira de balanço e esperar.

Sexta-feira, 8 de janeiro de 1962. Uma experiência indescritível. Adrenalina e prazer juntos, numa explosão de endorfina. Como descrever em apenas algumas palavras tudo o que foi visto? O jeito é tentar, ao menos. Deixar a casa aberta foi um convite. Um convite compreendido. Os barulhos, uivos incessantes, deram início no horário de sempre. O que mudou foi a intensidade. À medida que o desconhecido se aproximava, as pupilas dilatavam e os batimentos aceleravam. O vulto era visível. Mãos peludas, garras. Algo grande e assustador. Assustador o suficiente para correr e conseguir fechar a porta a tempo. Era um lobo. Características humanas eram o tanto quanto exótico naquilo tudo. O medo ao fechar a porta, e a decepção de deixar “ele” ir embora. E agora? A impressão era de que ambos estavam gostando da situação criada. Parar? Sumir? Caso assim o fizesse, daria razão ao apelido Louca.

Sábado, 9 de janeiro de 1962. Histórias e mais histórias a respeito.  A televisão passou a noticiar casos de assassinato envolvendo alguém não identificado com características selvagens. Não seria ao contrário? Sim. Ninguém precisa contar quando se presencia o fato. Manchetes de jornais descrevendo as cenas dos crimes. Nada assustador. Tudo era fascinante. Estava decidido que a casa ficaria aberta e a cadeira em frente ao milharal seria o cenário de um próximo crime. Crime? Caso as anotações parem por aqui, todos saberão o que aconteceu. Essas anotações serão apenas lembranças de uma história. Talvez sirvam de provas que levem ao paradeiro do assassino. O sino bateu, marcando meia noite. O bloco estará aqui, ao lado da lareira. A casa estará aberta, convidando para que todos entrem e saibam a verdade. Louca? Louca pela verdade, pela ânsia de saber além do que se ouve dizer... Loucamente, apaixonada. 

Reencontro

“É um sonho, você diz.
Não é um sonho, elas respondem.”
Steve Erickson

Foi no final dos anos 60, pelo que me lembro. Há três ou quatro noites que não conseguia dormir muito bem. O sono estava agitado e os sonhos eram confusos. Pouco recordava do que havia sonhado, mas alguma coisa me dizia que aquelas noites não eram apenas de pesadelos. Algum lugar dentro da minha cabeça me dizia que tinha algo mais envolvido naquilo tudo.


por Bárbara Garay Costa

Depois de alguns dias resolvi dormir com um pequeno pedaço de papel e uma caneta embaixo do travesseiro. Na minha ideia, se eu fosse ágil o suficiente conseguiria anotar o que tinha sonhado assim que acordasse, enquanto me equilibrava naquela linha tênue que separa o sono da consciência. Foram necessárias mais algumas noites angustiantes para que eu me desse conta de que aquilo não funcionaria.
Naquela época morava com meu avô em um grande sobrado do início do século já deteriorado pelo tempo. No térreo ficavam sala, cozinha, um banheiro, uma pequena biblioteca e a varanda; no segundo andar, os quartos. Eram quatro. Um alugado para um jovem casal do interior que estava terminando os estudos na cidade, dois eram meu e de meu avô e o outro estava vago.
Cansado das noites mal dormidas e cada vez mais confuso com a obscuridade de meus sonhos, resolvi dividir com meu avô e com o casal a minha angústia. Durante o café da manhã contei-lhes tudo o que se passava e percebi que, depois de desabafar, as ideias foram ficando mais claras. Naquela noite fui dormir com a certeza de que acordaria com tudo resolvido. Ajeitei-me para dormir, enchi um copo d’água, subi as escadas de madeira cujo rangido era ainda mais alto no silêncio da noite, entrei no meu quarto, fechei a porta nas minhas costas, apaguei a luz, deitei e dormi.
Andava por um gramado, o sol estava se pondo e o vento soprava frio. Não conseguia reconhecer o lugar, mas tinha certeza de já ter estado ali. Olhei para o horizonte e vi um vulto aproximar-se lentamente. Era uma mulher com longos e lisos cabelos pretos divididos ao meio, vestindo um saiote de palha trançada. Parecia flutuar sobre a grama. Logo que a vi, movia-se lentamente em minha direção, mas quanto mais se aproximava, mais rápido se movia e mais alta parecia. Parou a uns dois metros de distância e pude ver seu rosto: pálido como uma vela. Seus olhos eram grandes e seu olhar profundo e amedrontador. Apontou para uma árvore que ficava próxima de onde estávamos e abriu a boca para falar ao mesmo tempo em que moveu-se repentinamente para cima de mim.
Acordei. Suando frio, rapidamente acendi a vela que estava no criado mudo, a chama bruxuleava e transformava as sombras do guarda roupas e dos outros moveis em estranhas e macabras figuras. Tomei em um gole só todo o copo de água e a minha sede não saciava. As ideias continuavam perturbadas e cada vez que fechava os olhos o momento do ataque da estranha mulher me voltava à mente. Caminhei pelo quarto, senti frio e calor, pensei, anotei, rolei na cama até ser vencido pelo sono.
Herdei da perturbada noite, olheiras e um cansaço enorme. Sentado na mesa para o café da manhã, relatei a noite aos meus companheiros e lembrei que antes de acordar, no rápido instante que antecedeu o ataque daquela mulher, enxerguei ao longe o que me pareceu ser a silhueta de uma catedral, daquelas antigas, jesuíticas. O dia foi passado dentro da biblioteca e nos dedicamos quase que completamente a pesquisas relacionadas aos povos jesuíticos, já que a única lembrança mais próxima da realidade que tinha era a da catedral.
Já estava anoitecendo quando Bill, um dos jovens que morava conosco, encontrou em um velho e empoeirado livro informações sobre a lenda de uma mulher indígena de São Miguel das Missões que, durante os conflitos locais e negociações que antecederam a Batalha de Caiboaté, teria roubado de dentro das dependências da Igreja ouro e documentos jesuíticos. Descoberta pelos padres jesuítas, a índia foi severamente castigada. Dias antes de migrarem para São Gabriel, onde aconteceriam as últimas batalhas entre Portugal e Espanha pelo território até então divido pelo Tratado de Tordesilhas, a índia foi enterrada viva, junto com o ouro roubado, aos pés de uma figueira que ficava atrás da catedral.
Ao terminar de ler a lenda, estávamos todos certos do que faríamos. Na manhã seguinte partiríamos para São Miguel. Um pouco assustados, mas motivados pelo ímpeto de encontrar ouro e os tais documentos tão importantes da nossa história, fomos dormir. Por precaução, ou por medo, preferi deixar a luz acesa. Deitei na cama e não demorou muito para que eu me encontrasse em sono profundo. O sonho não se repetiu como era de costume. Mas aquela ainda não era a minha noite de descanso. Como previsto, uma forte chuva invadiu a madrugada, apagando as luzes e soprando um vento sombrio através das janelas, esfriando minha cama e minha alma já amedrontada.
O dia amanheceu frio e a chuva ainda caia. Mais calma, mas com jeito de que duraria o dia inteiro. Continuávamos decididos a sair à caça do nosso ‘tesouro’ quando a chuva começou a cair com mais força. A viagem até São Miguel era longa e queríamos sair o mais cedo possível, mas a chuva nos impedia até então.  Optamos por viajar a tarde e aproveitar a manhã para pesquisar mais a respeito da tal lenda. As pesquisas foram inúteis; nada mais se pode achar a respeito da lenda. Almoçamos, carregamos a camionete com o que imaginávamos ser necessário e partimos para nossa jornada.
Já passava da metade da tarde quando conseguimos sair da cidade. A chuva caia fina e as estradas que eram de terra estavam agora cobertas por uma lama densa. Dentro da camionete estávamos eu, meu avô, Bill e sua namorada, Kika. A viagem era longa e nosso nervosismo não nos permitia maiores conversas ou distrações. Éramos nós, a chuva, a ansiedade e o velho rádio sintonizado em alguma estação que tocava Ligth My Fire, do The Doors.
Durante boa parte do trajeto permaneci em um sono letárgico, só acordei nos momentos em que troquei de lugar com meu avô na direção da camionete. Em um determinado ponto da viajem fui acordado por Bill, que me chamava a atenção para a parte superior da Catedral de São Miguel Arcanjo que já podia ser vista da estrada. Quando finalmente chegamos a cidade de São Miguel já estava anoitecendo, o que intensificou ainda mais a atmosfera fria do dia chuvoso.
Naqueles tempos a entrada no sítio arqueológico era mais tranquila, não precisávamos pagar e o local não era inteiramente cercado. Caminhamos em direção ao gramado em frente a catedral, que era iluminada na sua frente e em seu interior por grandes holofotes de luzes amarelas. Através das luzes era possível enxergar a chuva que caia grossa novamente. Estávamos indiscutivelmente nervosos e nitidamente eufóricos.
Minhas mãos tremiam. Eu já não sabia se meu rosto estava molhado da chuva ou de suor; um misto de expectativa e medo percorreu minha coluna causando-me um arrepio. Por um instante eu senti como se já tivesse vivido aquele momento e, de repente, a imagem daquela assustadora mulher tornou a invadir minha mente. Em flashes eu a enxergava ao meu redor, me olhando, me encarando agressivamente. A medida que avançávamos até a catedral para procurar a velha Figueira que a índia apontou em meu sonho, as sensações ficavam mais fortes, meu corpo tremia mais e a imagem da mulher ficava mais nítida.
A chuva caia arrebatadoramente no momento em que finalmente avistamos a velha figueira. Ela ficava logo atrás da catedral e a luz dos holofotes chegava fraca até lá. Abri uma das mochilas trazidas por Bill para pegar uma lanterna e o livro em que havíamos lido a lenda da índia cruelmente assassinada pelos padres jesuítas caiu no chão. O vento o abriu, virou algumas de suas páginas, rasgou outras e o arrastou até as raízes da figueira centenária. Acompanhei o movimento do livro com a lanterna e quando direcionei a luz para a árvore enxerguei a mulher do meu sonho, a índia. Estava parada ao lado da árvore e me olhava fixamente. O terror invadiu meu corpo e em um gesto impulsivo movi-me para trás pensando em sair correndo dali, derrubei a lanterna no chão e cai sentado aos pés de meus amigos, que nada viram.
Sentia-me completamente entorpecido, minhas ideias estavam novamente confusas e eu visualizava cada vez mais imagens da índia. Ouvi gritos, pedidos de socorro e vozes irreconhecíveis, de repente olhei em volta e vi a catedral reconstruída, meus amigos não estavam mais ali e eu me vi, junto dos padres criminosos do passado, ajudando. Eu me vi cometendo aquele ato vil e repulsivo. Foram segundos desta memória inconsciente; acordei com meus amigos me chamando para ver o que tinham encontrado. Levantei-me tonto e perturbado e caminhei até eles tentando, sem forças, manter-me em pé. Chegando aos pés da Figueira pude ver no buraco aberto no chão os motivos das minhas noites assombrosas das últimas semanas: Uma urna de barro fechada e restos de um esqueleto humano. Minha visão estava embaçada, minha cabeça doía, e em nenhum momento eu me vi livre dos flashes com imagens repetidas e assombrosas da índia assassinada.
Aproximei-me do buraco recém escavado, ainda cambaleante e com as visões  ainda mais fortes, abaixei-me para pegar a  urna que provavelmente continha os tais documentos e o ouro, quando encostei na urna ouvi um grito muito alto e agudo, enxerguei nitidamente a índia que eu havia assassinado e senti uma mão empurrar-me as costas. Desequilibrei-me, e o tombo para dentro do buraco que não tinha mais que 2 metros de profundidade pareceu de um precipício. Quando atingi o fundo senti a terra muito macia, abri os olhos e percebi que estava no meu quarto. Rapidamente acendi a vela do criado mudo. Suando frio e ainda apavorado levantei da cama, caminhei pelo quarto repetindo para mim mesmo que havia sido apenas um sonho. Voltei para a cama e assim que atingi aquela linha entre o sono e a consciência ouvi um sussurro muito próximo ao ouvido me respondendo: “Não, não foi um sonho”. 

As marcas do maior quarto

por Raíza Goi Borba

Elas vinham do interior para estudar na “cidade grande”. Pela frente um desafio: encontrar um imóvel para alugar. A tarefa não foi fácil, Amanda e Daniela, juntamente com seus pais procuraram em vários lugares, até que encontraram o Condomínio Bela Vista. Lá havia somente um apartamento disponível, era o 301, no bloco oito. Parecia a melhor escolha, o apartamento era claro, arejado e havia sido reformado recentemente. As meninas, que então ingressariam na faculdade, não entendiam o motivo pelo qual ninguém o alugava.
Mudança feita. O local era grande, com uma sala ampla, cozinha, banheiro e três quartos, um deles maior do que os demais. Amanda e Daniela estavam bem instaladas, afinal, para duas jovens o apartamento estava ótimo. Além disso, os vizinhos eram legais e o condomínio, seguro.
Daniela era comprometida. Seu namorado continuaria morando no interior e eles seguiriam com o relacionamento à distância. Inevitavelmente, o par da garota tinha medo de que Daniela se interessasse por uma pessoa da cidade e o esquecesse.
Iniciaram as aulas e a rotina das garotas era parecida: saiam de casa pela manhã para trabalhar, voltavam a tardinha e se arrumavam para ir até a faculdade. Daniela não tinha aula nas segundas e quartas-feiras, então, passava essas noites sozinha no apartamento. Sua distração era navegar na internet, olhar televisão e escutar música, até o sono aparecer e ela ir deitar. Porém, com o passar do tempo, as distrações de Daniela passaram a ser outras. A menina simplesmente não conseguia mais dormir de preocupação. Coisas estranhas estavam acontecendo no apartamento 301 do bloco 8.
Daniela ocupava o quarto maior. Em uma das noites que estava sozinha as venezianas da janela de seu quarto simplesmente se fecharam. Em função do barulho causado, a garota foi até o local ver o que havia acontecido. Ao entrar, a porta se fechou numa grande batida. Não tinha vento e nem outro fator que pudesse explicar o que estava acontecendo. A menina não conseguia sair de lá e o pânico tomou conta de sua mente. De tanto chorar, Daniela pegou no sono. Em seus sonhos, imagens do pátio do Condomínio com crianças pulando corda alegremente.
Pela manhã, Daniela acorda com um raio de sol em seu rosto, a janela estava aberta e a porta também. O que aconteceu? No que pensar?
- Acorda Amanda! Preciso te contar o que aconteceu comigo essa noite.
Amanda ouviu o que Daniela tinha pra contar, porém, não acreditou em uma só letra. Disse pra ela não se preocupar, pois tudo não passara de um pesadelo. Daniela tentou, mas não conseguiu se acalmar, passou o dia todo tentando entender seu sonho. Qual era o significado daquelas crianças pulando corda?
            Esta não foi a única vez que coisas estranhas aconteceram com a garota. Os dias em que Daniela não tinha aula passaram a ser uma tortura. As chaves saiam das fechaduras, os aparelhos eletrônicos paravam de funcionar, as lâmpadas estouravam constantemente. Porém, ninguém acreditava na menina. Seus amigos e seus pais achavam que era paranoia e até cogitaram a hipótese de levá-la para fazer um tratamento psicológico.
            Além da preocupação, outro sentimento ocupava o coração de Daniela: o amor. Mas não era o amor pelo seu namorado do interior. A garota havia se apaixonado por um colega de aula, que a tratava bem e preenchia o vazio de seu coração quando seu namorado não estava.
Tentando entender porque coisas estranhas aconteciam enquanto estava sozinha no apartamento 301, Daniela buscou ajuda. Primeiro, entrou em contato com a imobiliária para saber o nome e o endereço do proprietário do apartamento. Era a senhora Iolanda Prestes.
Com o pretexto conversar sobre possíveis ajustes que deveriam ser feitos, Daniela foi até a casa de Iolanda. Durante o diálogo, a garota percebeu que algo incomodava a senhora. Depois de muita conversa, a menina tomou coragem, e perguntou: O que a fez sair do apartamento?
Iolanda estufou o peito e respondeu:
- Minha filha, eu tinha uma família linda, dois filhos educados e um marido muito especial, que me amava acima de tudo. Me arrependo muito do que fiz.
Com os olhos lacrimejando, a senhora continuou:
- Me apaixonei por outra pessoa enquanto eu era casada. Mantive um relacionamento com este meu “amante” por um longo tempo, mas eu precisava continuar com o meu marido. Não podia me separar, não podia deixar as crianças tristes.
Dona Iolanda contou para Daniela a história mais triste de sua vida. Ao chegar no apartamento 301 após um dia de trabalho, a senhora deparou-se com seu marido morto no maior quarto. Ele havia se enforcado com a corda que as crianças brincavam de pular. Em uma carta deixada, o marido explicou o motivo do suicídio: ele havia descoberto que Iolanda o traía.
“Enquanto eu te amava acima de tudo, você vinha me matando com sua traição.”
A garota então descobriu o motivo de suas perturbações: assim como Dona Iolanda, Daniela também estava traindo um amor verdadeiro.

O lobisomem

por Andrei Gabriel Fucilini

Morávamos sozinhos, em uma cidade do interior, eu, meinha irmã e nossos pais, que eram agricultores e trabalhavam o dia inteiro. Nossas propriedades são infinitas, muitas vezes, eles nem voltam para casa à noite, dependendo da distância que percorriam. Nossa vida é simples, sem mistério. Todo dia acordamos cedo. Tiramos o leite da vaca, nos alimentamos do pão caseiro, e esperamos o transporte escolar chegar, para que, no futuro, possamos ir para a cidade. Eu e a mana temos até um sonho, de abrir um escritório de advocacia juntos. Mas que nada, vamos seguindo, dessa maneira, até quando o destino quiser.
Já passavam das 19 horas da noite, papai e mamãe ainda não haviam voltado. Chamei minha irmã, para que me ajudasse a fechar a casa, pois era muito grande e tinha algumas janelas difíceis de serem lacradas. Fomos de cômodo em cômodo fazendo os trabalhos, para que, nossa segurança não ficasse em risco. Nossos pais sempre falavam que tínhamos que chavear portas e janelas antes da noite cair. Eu, na verdade, não tenho medo nenhum, aqui não têm bandidos, mas de qualquer forma é melhor seguir os costumes.
Fiquei na esperança dos nossos pais voltarem antes de cair no sono, a gente tinha o costume de rezar todos juntos, pedindo proteção e agradecendo antes de dormir. O devaneio estava aflorando e resolvi dormir. Não sei se a mana já estava na cama ou não, mas de qualquer forma, adormeci. No outro dia, a rotina seguiu como de praxe.
Era sexta-feira, a noite estava chegando e mais uma vez, nosso pais não voltaram embora. Confesso que já estava ficando um tanto quanto preocupado, mas não era a primeira vez que isso acontecia. Antes de fechar a casa, convidei minha irmã para irmos brincar um pouco lá fora, já que, no sábado não tínhamos aula mesmo. É sempre bom. Papai e mamãe não gostavam que a gente ficasse lá no escuro, falavam que havia cachorros bravos nosarredores.
Ficamos no campo brincando, porém, um barulho suspeito surgiu do mato. Parecia que tinha gente se aproximando, mas como poderia ter alguém por perto? Nossa casa fica a muitos quilômetros da cidade. “Deve ser besteira, vamos continuar brincando aqui. Vamos até os balanços, quero sentir a brisa da noite.”
Depois de cansados, fomos para dentro de casa, trancamos as portas, tomamos banho e fomos dormir. No outro dia quando acordamos mamãe e papai já estavam em casa, logo abracei com saudade e falei que já estava sentindo falta. “Não fiquem mais tanto tempo assim fora de casa, eu sinto falta, a mana estava com dificuldades na escola e eu também não sabia ajudar.”
Percebi que mamãe estava meio brava, perguntei se havia acontecido algo. “Estou um pouco chateada por ter ficado fora e não ter visto vocês durante esses dias. Ainda mais que vocês esqueceram de fechar as janelas.”  Fiquei meio em dúvida, pois conferi, e tudo estava devidamente trancado, mas de fato posso ter esquecido de algo.
No domingo era de costume almoçar churrasco. Estava muito bom por sinal, se pudesse comeria todos os dias. Papai sabia mesmo o que estava fazendo. No anoitecer, convidei a mana para brincarmos ao redor das cinzas que sobraram. Nossos pais estavam conversando em casa e não perceberam nossa presença lá fora. Até porque, se tivessem notado, já teriam nos mandado para dentro. Novamente, a gente percebeu uma movimentação nas proximidades e ficamos apreensivos, mas nossos pais estavam em casa, não tinha com o que se preocupar. Resolvemos ir mais de perto conferir que tipo de animal estava tentando nos sacanear, com certeza era um dos nossos porcos ou galinhas. “Mana corre aqui! Meu Deus o que é isso? Nossas galinhas estão todas mortas, com sangue, e depenadas.” Vimos uma sobra passando por trás de nós. E logo, ouvi a mãe gritando, “é ele, não se movam”. Começou a rezar e logo apareceu o pai com uma espingarda. O animal foi para a nossa frente, ele era realmente muito amedrontador, tinha cabeça de cachorro, patas, ficava em pé, e dava cinco vezes o meu tamanho. Não sabia o que fazer, cheguei a pensar que isso era uma brincadeira ou pegadinha, foi então que não lembro mais de nada.
“Amor, como a gente teve esse descuido? As crianças não podem sair mais essa hora. Ele está de volta, eu sabia. A gente sempre soube.”
“Não sei, querida. Mas até eu estou com medo, talvez seja melhor mandarmos eles para uma escola de ensino integral”.
Acordei para ir para a aula, mas não me lembrava direito o que havia acontecido na noite anterior. “Será que vi um Lobisomem? Isso é loucura, essas coisas não existem. Fui para a aula, e segui o dia normalmente.
Era quase meia noite, estava na cama, comecei a suar frio. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, me olhei no espelho, e meu rosto parecia com o de um cachorro...

Não sei o que vai acontecer daqui para frente. Não sei o que fazer e nem com quem falar. Tenho medo de contar para minha irmã e para meus pais. Tenho medo de virar um monstro. 

A lenda do ouro enterrado

Em tempos de Brasil colônia muitas histórias geram lendas da atualidade, histórias conhecidas por seus enigmas desenhados pelo espaço de tempo e por um submundo ainda muito questionável

por Aline Borgmann

Quem já não ouviu qualquer história contada por uma avó ou um avô (que já morou no interior) sobre as lendas contadas nestas cidades distantes de tudo? A história que contarei neste relato me foi contada pela minha avó já falecida que  morava  em Augusto Pestana, RS.
Pois bem, este lugar em que minha avó relata é o lugar que me criei um lugar lindo, cultivado em minha família a praticamente quatro gerações, mas com uma história cheia de surpresas. Relatos que se vê a noite, bolas de fogo correndo pelos morros, espíritos de animais e barulhos de roda d’água inexistente na cachoeira do sítio.
Minha avó sempre via a noite, quando ao precisar ir ao banheiro (patente que era fora de casa) bolas de fogo correndo por entre as árvores e barulho de uma roda d’água. Ela contou que por muitas noites junto a um de seus filhos caminhava pelo potreiro por um bom tempo sem resultados.
Foi quando certa noite avistaram uma taipa. Como ela me disse um monte de pedras  enfileiradas com perfeição, uma espécie de quadrado  erguido  com pedras, uma cachoeira bem ao meio de tudo e uma pedra enorme ao lado. Foi quando enxergaram de longe a tal bola de fogo. A cachoeira e essa perfeição de paredão rochosa são parte do sítio até hoje e permanecem do mesmo jeito.
Ela contava que seus avôs falavam sobre histórias da época do Brasil colônia em que os ricos fazendeiros mesquinhos que  não  tinham a quem deixar sua herança, ou não o queriam fazer, enterravam o seu ouro em cavernas subteraneas, e jogavam seus escravos lá, para que mesmo depois da morte deles, as almas ainda continuassem a guardar o ouro.
Conta-se a lenda que quem retirasse o ouro era amaldiçoada e logo depois acabavam morrendo. Minha avó nunca ligou para isso, sem medo das maldiçoes, pois ela teria sido não uma almadiçoada e sim uma escolhida, sonhos com pistas e aparições lhe davam ainda mais certeza de que algo era existente ali, até quando sua saúde a possibilitou cavoucava por debaixo de pedras na tentativa de achar o ouro.
Seu filho homem mais novo também conta histórias de que já sonhou com o lugar onde estaria aquele ouro perdido, conta-se que os primeiro habitantes da família já eram avisados sobre a existência, contavam com as palavras de uma cartomante naquela época já muito distante que contara que apenas a quarta geração da família estava predestinada a achar.
Eu mesma já vi essas tal bolas de fogo que aparecem à noite e se vão assim como o piscar de olhos, talvez hoje busquem alguém que continue o que minha avó intermitente fazia ao longo de sua vida. Tenho relatos de pescadores que por muitas vezes invadiam a propriedade para fazer seus acampamentos e praticar a pescaria, já vi muitos saindo rapidamente quando a noite se parecia mais obscura que ao normal.
O vizinho mais próximo da propriedade acabou por escolher se mudar para outro lugar, que fosse longe de tudo aquilo, o pobre homem junto a sua família já não suportava ouvir sempre ao cair do sol nas sombras da escuridão os barulhos de um espírito vagando por ali, arrastando correntes, caminhando livremente pelo pátio de sua propriedade e vagando entre as peças de sua casa. 
Infelizmente minha avó morreu e até hoje nenhum de seus filhos ousou  abrir a tal taipa. A quarta geração da família já esta entre nós, e cresce, são ainda apenas desconhecidos diante desta história que assombra as quatro gerações. Uma história e lenda já formada que tem como principais protagonistas esta geração de pequenas crianças que certamente serão procurados por espíritos de luz de boas intenções para lhes mostrarem onde o ouro que é tão procurado por décadas e décadas se esconde.
Ao procurar informações na internet li que realmente naquela época alguns fazendeiros tinham este costume de  enterrar o seu ouro com seus escravos, e que já foi encontrado ouro nessas situações, mas há muito tempo atrás. Será  que realmente existe o ouro lá? É uma lenda a ser verificada, ou serão apenas conversas e projeções criadas por uma mente que tanto deseja que a história seja verdadeira? 

A lenda baseia-se na crença de almas de outro mundo. Só quando for descoberto o lugar onde o ouro foi enterrado é que a alma cessará de aparecer e vagar. Muitas outras histórias semelhantes podem ser ouvidas em várias outras cidades de nosso pampa, e, apesar de se ser mais uma história entre tantas, há muito que se temer e aguardar por seu desfecho desconhecido. Afinal, o sobrenatural existe, ele está à nossa volta.

Maria Degolada: brinca pra ver!

Reza a lenda que a meia noite se você fechar todas as portas da casa, se trancar no banheiro e gritar 3 vezes MARIA DEGOLADA ela vai aparecer no espelho, então você terá que sair correndo e abrir todas as portas se não Maria pega você

Mateus G. Geist

A lenda de Maria Degolada nasceu em Porto Alegre- RS. Havia uma prostituta muito bela, chamada Maria, e essa tinha ido acampar com alguns de seus amigos em um bairro perto de um matagal. Maria, que era solteira na época, não se prostituía mais, porém despertava libido em vários homens do bairro. Destes, tinha um soldado da Brigada Militar que estava flertando com ela, e queria levá-la para os “finalmentes”.  Só que Maria não queria ter relações com esse soldado e esse ficou irritado e resolveu estuprá-la, ela até tentou se defender, mas como o soldado era mais forte cortou-lhe toda a face.
Finalmentes
Desacordada, ele fez o que quis com ela. Para escapar da punição, decidiu degolá-la e enterrá-la num matagal próximo do bairro onde aconteceu o crime. No dia seguinte os amigos resolveram ir embora, mas ninguém conseguia encontrar Maria. O soldado disse que ela havia ido embora na calada da noite, despedindo-se apenas dele. Passou um mês, dois, e ninguém via Maria. A polícia foi acionada e o corpo dela foi encontrado no matagal bem em cima, no Morro. O soldado foi expulso da Brigada Militar, preso e provavelmente assassinado na cadeia. Conta-se até hoje que o espírito da Maria Degolada ronda para aterrorizar pessoas cruéis com os pobres, para se vingar da tirania da sua morte horrenda. 
Essa lenda urbana é uma das mais conhecidas no Rio Grande do Sul. Não há algum gaúcho que não conheça essa famosa lenda, atualmente ainda as crianças são comunicadas por pais ou avós sobre o mito os antigos resguardam essas histórias que passam de geração a geração.
O folclore que a cercou desde o início continua em desenvolvimento, e novas versões sobre seu assassinato continuam a surgir, acrescentando muitos detalhes fantasiosos sobre sua vida. Ao mesmo tempo, sendo morta por um policial, ela se tornou um símbolo de resistência contra a exclusão social e a opressão do poder público, em comunidade pobre.
Mesmo assim a lenda da Maria Degolada percorre vários estados e até fora do país. Sendo ela verdadeira ou não o que interessa é que muitos acreditam e tem medo de Maria degolada que aparece monstruosamente horrorosa na frente dos espelhos quando invocada.
Na prática
No interior do estado, mais necessariamente em uma vila de Três de Maio ocorreu um fato que envolve a lenda de Maria Degolada, Marize Meller, hoje estudante de administração, passou por uma situação de medo quando pequena. “Meu pai e minha mãe costumavam sair a noite para ir a igreja, e eu e minha irmã ficávamos sozinhas e certa noite começamos falar sobre a Maria Degolada. Eu, como era maior, assustei a minha irmã. Depois que ela já tava mais calma, eu fechei o resto da casa e fui no banheiro onde ela tava tomando banho e comecei a invocar a Maria Degolada.”
Marize não tem muita diferença de idade com a da irmã, Marlize Meller, mas, como a irmã era mais “medrosa”, gostava de pregar peças. “Depois que falei três vezes 'Maria Degolada' na frente do espelho, comecei a me sentir meio estranha. Nossa casa era de madeira na época, e parecia que alguém caminhava com passos longos no assoalho da sala.” Marize indaga que na hora não sabia o que fazer. “Não sabia se eu corria, gritava ou chorava foi muito estranho o que senti, não cheguei a ver nada, mas sentia uma presença.”
Medo ao extremo
Também no interior do estado, agora em Horizontina mora Ana Richter que também foi brincar com o que não devia, segundo ela um dia sozinha em casa com uma amiga resolveram fazer o teste da Maria degolada, mas não contavam que iriam sofrer com o maior medo da suas vidas. “Comecei trancando toda a casa, e fomos eu e Magali minha amiga para o banheiro, chegando lá nós juntas chamamos várias vezes, 'VEM, MARIA DEGOLADA, VEM'”.
Segundo Magali não aconteceu nada de imediato, e as duas desistiram e foram assistir TV, o que não contavam era que logo após a meia noite barulhos estranhos começariam dentro da casa. “Depois da meia noite começou a estralar as janelas de madeira, escutamos sons estranhos, tipo gemidos sai gritando para meu quarto, mas ao entrar a luz não acendeu pois com a batida que dei no interruptor acabei queimando a lâmpada. Minha amiga estava quase desmaiando de medo, não parava de chorar.” Após passarem por toda a situação as meninas prometem não mexer com o oculto nunca mais. “Não conseguimos dormir em casa, saímos de casa e fomos dormir na casa de uma tia, o medo era tanto que eu tremia e imaginava a foto da Maria rindo vindo me pegar”, finaliza.

Pode ser coincidência ou não, mas a lenda da Maria Degolada é muito famosa, seja aqui no interior como em vários outros lugares. O povo do interior cultiva as ligações dos ancestrais que contavam para as gerações futuras possíveis acontecimentos e mitos das antigas, mesmo assim é bom não mexer com o desconhecido. Maria Degolada, pega um pega geral, também pode pegar você.

Próxima parada

Onde o destino pode ser desconhecido e obscuro

por Andriele de Oliveira Müller

Passar trinta, quarenta dias longe da família, essa era a vida de seu Juca. Dona Joana, esposa do seu Juca, estava acostumada a ter que criar seus cinco filhos sozinha. Seu Juca era caminhoneiro, se aventurava nas estradas desconhecidas. Costumava dizer que a boleia no caminhão, era sua casa
Sua cidade, chamada São Sebastião, havia muitos homens que ganhavam a vida nas estradas. Cidade pequena, todos se conheciam. Quando chagava de viagem, dona Joana conhecia de longe o ronco do motor, era uma festa só. As crianças corriam para rua, para ver o pai chegando.
Passar uma semana em casa, com a família, era artigo de luxo, seu  Juca trazia sempre um agrado para a esposa, essa era a forma que ele achava de retribui-la, nos dias que cuidava sozinha das crianças.
A hora de partir chegava rápido, mais uma vez, seu Juca entra em seu caminhão para voltar alguns meses depois. As crianças se lavam em lágrimas, é sempre assim. Dona Joana, mais uma vez terá que segurar a “barra” sem o marido.
O destino do seu Juca, dessa vez é muito mais distante do que o de costume. Quando recebeu a rota do deu patrão, logo viu que não seria uma viagem fácil. Muitos dos seus colegas de profissão não gostavam de viajar para aquela região, diziam que o caminho era chamado de estrada da morte.
O motivo de a estrada ser chamada assim, ninguém sabia ao certo, pois todos que seguiam aquela rota, não gostavam de tocar no assunto. A estrada, realmente não era das melhores, mas o velho motorista se dizia experiente nas estradas.
Seguiu em frente, depois de horas na estrada parou em um posto de gasolina pra abastecer e comer algo. Sentou-se no balcão da lanchonete e fez seu pedido. Enquanto estava comendo, uma menina bonita e até bem vestida sentou-se do seu lado e puxou conversa.Se mostrou simpática e de boa índole, assim conversa vai e vem ,passou duas   horas . Seu Juca Já estava atrasado, e a hora de continuar a viagem já tinha chegado.
Quando ligou o caminhão ali estava a menina. Ele abaixou o vidro para ver o que queria, ela pediu uma carona, disse que morava na cidade vizinha e não queria andar até lá, que apesar de perto, já eram duas da manhã e a noite era de lua cheia. Sem pensar duas vezes, disse para ela entrar, e que levava ela até sua casa.
Dez minutos depois de sair do posto chegaram ao destino. Apontando uma esquina ali no trevo, pediu pra parar e desceu do caminhão. Seu Juca se assustou quando viu que ali era o muro de um cemitério. E logo disse para ela retornar ao caminhão que ele a levaria até em casa. Disse para a menina para de brincadeira, já era tarde e ele tinha que seguir viagem.
A menina continuou caminhando, seguiu em direção ao muro do cemitério, e desapareceu, como um fantasma. Seu Juca ao deparar com essa imagem acelerou o caminhão e saiu o mais rápido possível. O susto foi grande, parecia ser mentira, achou que estava sonhando. O primeiro pensamento que veio a cabeça, foram os seus filhos e a dona Joana, ficou com medo de que nunca mais fosse vê-los.
Passando algum tempo, contando essa história e conversando com outros caminhoneiros, descobriu que o fantasma era de uma prostituta que residia na cidade onde ele a deixou. Ela teria sido estuprada e torturada até a morte por um caminhoneiro que a pegou naquele mesmo posto. Seu fantasma fica assombrando caminhoneiros como forma de vingança. Hoje, seu Juca sempre desvia do trecho onde encontrou a mulher com medo de vê-la novamente, a menina era bonita, mas não queria ter que dar carona para a moça mais uma vez.